Sunday 13 April 2014

Sniff...Sniff

é uma história escrita em três línguas: inglês, alemão e português. A pequena Sofia decide escrever uma história de um reino que não tinha história. Simples mas divertido.
Pode ser comprado no website da Amazon

Sniff...Sniff is a story written in three languages: English, German and Portuguese. The funny story of a little girl who decides to write a story.
 
Available on the Amazon website
"Letters to Grandparents"

É um livro de cartas de dois irmãos de dois e quatro anos, que escrevem para os seus avós. Contam de uma forma simples as suas vivências e alguns momentos mais marcantes do seu dia-à-dia. As cartas são escritas na perspectiva de uma criança e em inglês. Têm também a particularidade de focar a vivência num país estrangeiro para os pais. As cartas mesmo sendo simples no seu conteúdo estão repletas de humor e criatividade, que é natural nas crianças.
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A book of letters from two young brothers, aged two and four, telling their grandparents about their adventures growing up in a foreign country. The letters recount from a child's perspective, the significant events that happen during a year of their life as they are growing up. The letters, although simple, are full of humor and creativity.

Available online on the Amazon website.

Movimento



Movimento

“Estamos a olhar para as nuvens”, disse-me um dos meus dois filhos. Estavam os dois deitados, em cima de uma grande caixa de madeira que guarda peças gigantes de xadrez, na área de recreio da escola secundária da nossa localidade.


Estavam à minha espera. Eu estava dentro da biblioteca que fica junto da escola e aproveitava para trocar livros e dar uma vista de olhos nos livros das estantes. Tinham vindo nas suas bicicletas e muito rapidamente tinham desaparecido do meu campo visual. Eu tinha vindo a pé.


Algum tempo atrás era eu que esperava por eles.


Quando o nosso filho mais novo fez quatro anos decidimos, baseando-nos no que tinha feito o mais velho, retirar-lhe da bicicleta os estabilizadores, mas ele não estava preparado para usar a bicicleta sem o apoio das duas pequenas rodas. Caiu várias vezes e acabou por desistir da bicicleta e passou a andar somente na trotinete, que sentia que podia controlar.

Agora, com cinco anos de idade, já anda novamente na bicicleta e adora pedalar rápido junto do irmão mais velho.


Eu gosto de andar a pé e gosto também de andar na companhia dos dois, mas por vezes o meu ritmo é rápido demais para as suas pequenas pernas e o mais pequeno pede-me por vezes para parar.


Algumas décadas atrás as crianças quando olhavam para o céu não imaginavam que um dia podiam passar a atmosfera terrestre e alcançar o espaço num foguetão.
Voar ainda não é uma realidade para todos os habitantes do nosso planeta, no entanto tem crescido rapidamente o número de pessoas que o podem fazer.

A meu primeiro voo foi feito quando tinha 18 anos, num voo curto do Porto para Lisboa. Recordo-me que fiquei impressionada com a rapidez do avião e com a capacidade de um corpo tão pesado poder movimentar-se assim no céu. Uma viagem que demorava horas de carro ou de comboio foi feita numa hora.


Os meus dois filhos começaram a voar dentro de mim. Não sei que memórias têm dessas experiências e que efeito pode ter tido a rápida mudança de pressão atmosférica nos seus corpos. As suas experiências de voo começaram muito cedo.


No entanto têm que respeitar o desenvolvimento natural dos seus corpos, mas a tecnologia ajuda-os a alcançar coisas mais facilmente e a sua curiosidade ê como o céu por cima das suas cabeças: sem limites. Os únicos limites são aqueles que criamos dentro de nós.


Recordo-me também da minha primeira experiência na montanha russa e das sensações fortes da velocidade. Quando conduzo, com os meus filhos sentados no banco de trás, eles pedem-me por vezes para ir mais rápido, mas como condutora sempre fui cuidadosa e agora, com crianças, ainda redobro esse cuidado. Mas admito que também gosto de conduzi er por vezes um bocado mais rápido, com a música a preencher o espaço do interior do carro. A velocidade dá de facto sensações fortes.


O meu filho mais velho teve sempre interesse por máquinas. Tem uma paixão por carros e sabe de memória vários pormenores técnicos sobre eles. Por vezes digo-lhe na brincadeira que ele podia ser já um vendedor de carros e penso que ele até nem se importava. O seu pai também gosta de carros e é um entendido sobre o assunto. Eu também gosto de carros mas não lhes dou tanta atenção. O meu pai, que tem 73 anos, gosta tanto de carros que tem dois, dois modelos económicos e um deles sou eu que o uso, mas penso que se pudesse teria um carro mais caro e consequente mais veloz. E é o meu pai que conta aos meus filhos que na sua infância tinha que andar muitas horas a pé e que fazia os seus próprios brinquedos com coisas simples. Agora ele não anda assim tanto mas conduz muito e penso que vai ser miserável o dia em que tiver que o deixar de fazer.


Comparando com o meu irmão, eu não fui encorajada a ser tão empreendedora como ele e enquanto o meu irmão aprendeu a conduzir com o meu pai antes da idade legal de ter a carta de condução eu tive que esperar mais alguns anos. Mas também tinha vontade de conduzir e quando comprei o meu primeiro carro o meu coração ficou num modelo mais veloz, mas infelizmente caro demais para mim.
A sociedade portuguesa tem mudado muito e fui eu, a rapariga, que começou a fazer viagens para locais mais distantes. Primeiro como turista e depois como emigrante. O meu irmão acabou também por se tornar também um emigrante e ir para África, mas antes disso trabalhou durante algum tempo como motorista de um camião, viajando por vários países da Europa. Os meus filhos ficaram muito impressionados com o tamanho do camião que ele conduzia. No entanto sou eu que tenho o recorde da viagem mais longa como turista: Macau e também da estadia mais longa no estrangeiro, desde 2002, mas confesso que não me via a conduzir um camião nas autoestradas da Europa.


Dentro das cabeças dos meus poucos mais do que um metro filhos, o céu não precisa de ter nuvens. O mais velho, que tem oito anos, já me pergunta se pode conduzir o meu carro e sabe que o Concorde é o avião mais rápido do mundo, mas que parou de voar por ser muito expendioso. As viagens que os meus filhos vão desenhando dentro das suas cabeças podem um dia tornar-se realidade e assim o espero desde que eles nunca fiquem fora do meu alcance : ).


Texto e ilustração da autora

Movement

“We are looking at the clouds in the sky,” said one of my sons to me, lying down on top of a big wooden box in the playground of the local secondary school.

They were waiting for me. I was in the library near the school, changing books and looking at the titles on the shelves. They had come on their bicycles and quickly disappeared from my view, as I was walking. Some years ago it was I who had to wait for them.

When my youngest son was four years old we decided, based on how things had gone with the older one, to take the two stabilisers from his bicycle, but he wasn’t ready to use the bicycle without the small wheels. He fell again and again, and even gave up and chose for some time to use only the scooter, because he could go faster and with full control.

Now at age five, he is using his bicycle again and loves to go fast next to his older brother. I like to walk and I also like to walk in their company, but their small legs must make a bigger effort to keep my rhythm and they ask me, especially the smallest, to stop from time to time. For me, it is much more fun to go quickly and to cover distances in less time.

Not so long ago children would look to the sky and never imagine that they could go near the clouds or even go above them and reach space, leaving Earth’s atmosphere. It isn’t for everybody, but flying is increasingly a reality to growing numbers of people. I had my first experience of flying at the age of 18, with a short flight from Oporto to Lisbon, and it was an amazing sensation. First being able to fly inside a heavy body like a plane, and also the speed; a trip that could take hours by car or train was made in an hour.

My two sons began to fly inside me. I don’t know what kind of memories they have from life in the uterus, and what the sudden change of air pressure in the airplane could do to their bodies at that time, but in terms of flying they are now already ahead of me.

They still have to wait for the normal development of their bodies, but technology can give them a hand in achieving things, and their curiosity is like the sky above their heads: without limits. The only limits are the ones we create inside us.

I also remember my first experience on a roller coaster and the strong sensations of the high speed. When I am driving my car, with the two boys sitting in the back, my sons sometimes ask me to go faster, but as a driver I have always tried to be careful and now, with two children, I take even more care. I would like to drive my car a little faster and turn the music up. Speed gives us a strong sensation.

My oldest son has been curious about machines since he was very young. He has a passion for cars and already knows lots of technical details about them. Sometimes, jokingly, I tell him that he could work as a car salesman but, seriously, I think he wouldn’t mind working with cars. His father is a car expert too. I also like cars but don’t pay as much attention as they do. My father, who is already 73, likes cars so much that he has two. Well, not new ones and not too expensive, but I think, if he could, he would have one fast car. This is the man who tells my children that in his youth he used to walk hours to go to work and could build small cars from things he found in nature. Now he doesn’t walk so much but he drives a lot, and I think that he will be miserable on the day that he cannot do it anymore.

As a girl, I was taught to be a little less adventurous than a boy, and while my brother learned to drive with our father before the legal age, I had to wait longer. I was curious all the same, and when I bought my first car, my heart longed for a more powerful, more expensive model.

Portuguese society has changed so much these past years that it was I, the girl, who began to travel long distances first, and then I emigrated. My brother also eventually left. He is now living in Africa, and before that he worked for some time as a lorry driver, travelling through several European countries. My sons were very impressed by the size of the lorry that he drove. However, I still hold the record for the longest trip as a tourist, to Macau, and also the longest stay abroad, since 2002, but I confess that I cannot see myself driving a lorry on the Europe motorways.

Inside the minds of my two hardly-more-than-a-meter-tall sons, the sky doesn’t have to have clouds. The oldest one, who is eight, already asked me if he could drive my car, and he treasures the knowledge that the Concorde was the fastest plane on earth (but stopped flying because it was very expensive). The travels my boys take in their imaginations today will perhaps someday become their reality.

Text and Illustration by Albina Nogueira