Saturday 15 February 2014

Casamentos Interculturais

Actualmente e em especial nos países Ocidentais, as pessoas têm facilidade em ir viver noutro país. A migração é um movimento social que tem acompanhado a humanidade ao longo da sua história. Pessoas singulares ou grupos de pessoas, por razões diversas, movimentam-se de um local para o outro dentro do seu país ou para países diferentes. Talvez o grande motor da migração humana seja a procura da felicidade, se as necessidades básicas de sobrevivência estiverem já asseguradas.

Eu sou portuguesa e por esse facto represento um país que teve na sua história e continua a ter, vários episódios de emigração. Também recebemos imigrantes e somos nós também, em grande número actualmente, emigrantes. Quando nos movimentamos naturalmente levamos connosco uma mala cheia de experiências e outra cheia de expectativas de uma vida melhor. Naturalmente ninguém quer mudar para pior!

Como portuguesa também represento uma cultura que recebi da minha família, dos meus contactos sociais, das escolas que frequentei e de de todos os valores que eu consciente ou inconscientemente guardei das minhas experiências.

Sou actualmente uma emigrante e mesmo antes de o ser sonhei em ver e mesmo viver noutros países. Na idade adulta fui trabalhar e viver para o Luxemburgo. Foi o início de uma aventura que ainda continua. Neste momento já estou noutro país, na Suíça, e mais uma vez o mudar criou-me expectativas positivas. Em Portugal fui durante vários anos professora primária e foi a minha profissão que me levou a viver no Luxemburgo. Fui trabalhar com as crianças da comunidade portuguesa no Luxemburgo e foi uma experiência interessante. A mobilidade profissional facilita a adaptação ao outro país. Os países são estruturas administrativas e políticas e é importante ter um papel activo na sociedade, como trabalhadores somos consequentemente sujeitos sociais com outro peso nas decisões comunitárias nem que só seja pelo nosso poder de consumo.

Quando pensei em escrever um artigo sobre o casamento foi sem dúvida o meu lado romântico que falou mais forte. A ideia de que o amor pode derrubar grandes diferenças, pelo menos no início do relacionamento, é interessante. Também é interessante descobrir interesses comuns numa pessoa educada num país diferente do nosso e uma vontade mútua de caminhar juntos na vida. O sucesso de alguns destes casamentos, provam, segundo o meu ponto de vista, que a humanidade pode ultrapassar as diferenças através do enamoramento.

Em Portugal não tive muito contacto com pessoas casadas com pessoas oriundas de outros países. Vivi a maior parte da minha vida no norte de Portugal e dentro da minha esfera social esses casamentos não eram tão comuns, no entanto houve excepções e tenho uma prima casada com um francês. No entanto ela viveu a maior parte da sua vida na França. Quando olho para a fotografia do seu casamento, que me levou pela primeira vez a visitar a França, ela parece-me uma jovem francesa e ele, mesmo sendo francês, podia também ser um jovem português. Para a nossa família foi um casamento intercultural e este novo ramo da família partilha agora duas culturas: a portuguesa e a francesa. O casal teve três filhos e o casamento já dura há mais de vinte anos. A minha prima vem passar férias a Portugal mas reside em França.

Quando fui viver para o Luxemburgo conheci várias pessoas cujo o casamento se podia considerar interculturar por representarem duas nacionalidades e consequentemente duas culturas. Vivi na capital que tem o mesmo nome do país: Luxemburgo e numa capital é fácil encontrar pessoas provenientes de vários países.

Foi lá que conheci o pai dos meus filhos, que é inglês, apaixonei-me por ele e acabei por casar com ele. Confesso que este foi um dos pontos altos da minha vida de emigrante e tornei-me eu também exemplo de um casamento intercultural. Quando nos conhecemos partilhávamos a mesma situação económica e uma secreta esperança de encontrar uma pessoa especial que respondesse às nossas necessidades.

Quando nasceram os nossos dois filhos, essas necessidades foram ampliadas e muito rapidamente entendemos que em muitos momentos as suas necessidades eram mais fortes do que as nossas. Mesmo sendo Portugal e a Inglaterra países do continente europeu existem entre nós diferenças de carácter cultural, no entanto também existem aspectos partilhados. Com boa vontade tentamos educar duas crianças num plano geográfico e consequentemente cultural, maior do que as nossas próprias nacionalidades.

Representamos, como pais, duas culturas e dois países e vivemos, neste momento na Suíça. Tento visitar com regularidade Portugal e gosto de apresentar o que me é familiar aos meus filhos, de lhes falar da minha família, do meu passado e daquilo que gosto. Nunca fiquei tão feliz por ir à praia como agora fico quando vou lá com os meus filhos de cinco e oito anos. Reparo nas algas como nunca reparei, nas rochas e em todos as plantas e animais que consigo encontrar quando a maré está baixa e mostro tudo isto aos meus filhos como se fosse um tesouro. Gosto de lhes servir de guia em Portugal e secretamente desejo que se apaixonem pelo meu país.

A família e os amigos também ajudam a manter esse romance e tanto o avô português como os avós ingleses são uma ajuda preciosa pelo seu tempo e por toda a herança cultural que representam. Os meus filhos adoram ouvir o meu pai falar sobre as suas memórias de infância. Nunca pensei que as crianças tivessem tanto curiosidade em saber esses pormenores. Fico também feliz por saber que através do pai podem construir uma ponte para outro país e não fico ciumenta por os sentir também apaixonados pela Inglaterra. Tenho que os levar ao museu do Carro Eléctrico no Porto, http://www.museudocarroelectrico.pt, para eles compararem impressões sobre o que já viram no Railway Museum em York na Inglaterra,http://www.nrm.org.uk/ .

O amor pode diminuir distâncias e diferenças e é sem dúvida muito mais fácil ser emigrante quando temos bons contactos, bons amigos e família perto de nós.

(fotografia da autora: praia de Angeiras - Matosinhos - distrito do Porto) 

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